A ideia de estar dentro de um quarto todo o tempo, sem ter a necessidade de sair deste espaço com todas as vontades do corpo supridas facilmente parecia um sonho, mal sabia ele que este sonho tornar-se-ia um pesadelo. Pesadelo daqueles em que se acorda com a camiseta encharcada de suor o ar faltando ao peito e uma vontade incontrolável de fuga.
De momentos de introspecção, de uma dita paz, tudo aos poucos foi transformando-se em solidão, desespero e medo. A solidão era a consequência mais fácil de se prever, ao estar sozinho sem a necessidade de interação com o mundo exterior logo estaria só de vez. Mesmo que havendo outros por perto havia um estado generalizado de apatia e indiferença, sobrava somente o rancor e a desfaçatez. Uma espiral de mesquinharias da qual somente ele se importava, a fala repetida afastava aos poucos o que quer que seja que se aproximasse.
Foi então que o desespero tomou conta, o vazio de qualquer tipo de pensamento racional fez com que se escondesse dentro de si mesmo e escolhendo sempre o caminho mais tortuoso afim de prestar condolências ao seu próprio ego acabou por criar e cair na própria armadilha. Não importava mais, tudo estava perdido, sua rigidez mental serviu tão somente para atravancar sua caminhada e aos poucos o desespero tomou conta de si. E se não conseguisse? E se a única opção fosse dar fim a tudo? E como é de se esperar o desespero causava a paralisia e junto com a estagnação veio o medo.
O medo tornou-se maior do que deveria, devorando toda a vontade de continuar, por qual motivo lutaria se não houvesse certeza de nada? Sentindo medo do futuro, do presente e assombrado pelo passado, esperou até o fim que as paredes do quarto conversassem com ele, porém, elas apenas ouviam. Ao constatar-se de quê as paredes não lhe ofereceriam diálogo tomou para si como verdade que estas comunicavam seus pensamentos a outrem, de que tudo que pensava e passa ali naquele local era disperso aos ouvidos de todos os outros próximos e assim o nojo teria se espalhado por todo lado.
E não havia (e não há), qualquer maneira de escapar dessa realidade, as paredes que o protegem são ao mesmo tempo um aceno frio e um acalento, imutável e sufocante. E por fim, poderiam não haver ouvidos, mas com certeza haviam olhos.